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3 possíveis impactos da guerra na saúde mundial

Depois de um mês em conflito, é necessário contabilizar as consequências que a guerra entre Rússia e Ucrânia pode trazer para a saúde em escala global. 

Muito foi falado sobre os impactos da guerra, em diversas esferas, mas a principal abordagem foi a financeira. Não à toa, afinal, o mundo sobrevive à base da oferta e procura, e no caso de um conflito dessa magnitude, essa balança fica completamente desregulada. 

Nós já sabemos, por exemplo, que o preço das commodities nos mercados internacionais tem aumentado, e sentimos isso refletido em alguns alimentos nas bancadas de supermercados, como os pães. 

Ambos os países no centro do conflito são grandes exportadores de trigo e, entre as sanções que a Rússia tem recebido, dia após dia, e a destruição que assola a Ucrânia, o futuro da comercialização desse cereal é incerto. Isso fez com que, em escala acelerada, seu preço subisse 70% de janeiro a março de 2022.

Outro setor que sentiu o impacto financeiro desse conflito, que já dura 34 dias, foi a indústria da aviação. O preço dos combustíveis está em constante elevação, e parte disso se dá porque a Rússia ocupa a posição de uma das maiores exportadoras de petróleo do mundo. Assim, o QAV – querosene de aviação – utilizado pelo transporte aéreo, também é diretamente afetado e segue a tendência da alta de preços.

O reajuste chega a ser de 45% no preço médio de passagens nacionais, e 17% das internacionais. Segundo a LATAM, seus voos podem chegar a custar até 30% a mais, entre passagens e serviços extras, e, temporariamente, 21 rotas estão suspensas.

Mas e a saúde, onde se encaixa? Na problemática do aumento exacerbado e perigo até de uma escassez do petróleo? Insumos provenientes da Rússia ou da Ucrânia não conseguirão vias de exportação devido à falta de transporte? Esse conflito já está impactando a saúde de forma global?

A seguir responderemos essas perguntas, mas já antecipamos que a resposta para todas elas é sim. De alguma forma a saúde como um todo, não apenas o meio tecnológico da medicina, já foi globalmente afetada pela guerra.

Isso porque é impossível, com a conectividade que alcançamos hoje no mundo, sair ileso de um conflito dessa magnitude, mesmo que ele aconteça a 10.680 quilômetros de distância da segurança das nossas casas.

OMS pede à Ucrânia que laboratórios destruam patógenos perigosos

 

Vamos começar por uma consequência que foge da problemática do combustível, assim, é possível entender que os impactos atingem uma escala além da que engloba apenas transportes ou insumos.

Aqui, falamos do risco dos itens que permanecem existindo, e não somente daqueles que podem estar em falta dentro de algum tempo.

Um dos primeiros temores que a população geral demonstrou, assim que o conflito eclodiu, foi sobre uma possível tomada das principais usinas nucleares da Ucrânia, a mais conhecida delas, Chernobyl. Isso porque se trata de um inimigo que mesmo os leigos conhecem e sabem que, uma guerra naquele território, traria esse perigo iminente.

Porém existem alguns inimigos invisíveis, aqueles que muitas vezes não passam pela cabeça da maior parte da população que não é especialista, e para esses, temos organizações prevenindo e antecipando possíveis soluções.

Esse cenário de precaução fez com que, logo nos primeiros dias de guerra, a OMS solicitasse à Ucrânia a destruição de patógenos perigosos presentes nos laboratórios de seu território. 

Isso porque a Ucrânia, como qualquer outra nação, armazena alguns patógenos em instalações hermeticamente fechadas e seguindo todos os protocolos de biossegurança, a fim de evitar possíveis desenvolvimentos de vírus, novas variantes de velhas doenças, ou simplesmente monitorar patógenos de enfermidades do passado, para que não ocasionem novos alarmes à população.

Há anos a OMS se corresponde constantemente com a Ucrânia para que todos esses protocolos de segurança sejam seguidos e não haja risco de algum vazamento de patógenos que coloque primeiro a população local em risco, mas possa evoluir para uma escala global.

Portanto, a recomendação de sua destruição é uma questão de saúde internacional, já que, em uma guerra não há controle sobre quais áreas territoriais podem ser comprometidas, e, se o conflito for levado para as proximidades das instalações de proteção de patógenos, o risco é iminente e um resultado desastroso pode afetar um raio extenso.

Semicondutores e o paládio, lasers e o gás neônio

 

Se entrarmos em uma esfera tecnológica da saúde, desbravando a física na medicina, encontraremos os semicondutores. Eles não são necessariamente manuseados por profissionais da saúde, mas são partes da engrenagem na fabricação de diversos equipamentos médicos.

Os semicondutores estão presentes em equipamentos de grande importância, especialmente para a ponta final na cadeia da saúde, o paciente. Mas como são peças-chave para o funcionamento de outro equipamento, acabam ficando invisíveis aos nossos olhos. Não é por isso que a sua falta seria menos impactante. 

Se você não conseguiu imaginar onde a sua presença é essencial, uma pessoa que utiliza marcapassos sentiria os desafios da ausência de um semicondutor, mesmo que não conseguisse identificar o que há de errado.

O que essa peça faz é o que seu nome nos conta, conduz correntes elétricas e são a matéria prima de chips usados em equipamentos médicos. E onde entra a barreira da guerra nesse caso?

No paládio. Essa é a matéria-prima principal para grande parte dos semicondutores. Mas quem domina a produção de paládio é a Rússia. Estima-se que cerca de 50% desse minério seja proveniente de lá, e o restante divide-se entre poucos países. Sancionando a Rússia, o paládio sofrerá e, com ele, os equipamentos dependentes.

O que pode ser afetado diretamente na medicina, por utilizar o paládio, são áreas experimentais, como testes in vitro com células de mamíferos, mas também essencialidades, como fabricação de instrumentos cirúrgicos e tiras de teste de glicemia.

Já o gás neônio, além de estar presente na produção de semicondutores, é também a principal matéria prima de lasers utilizados amplamente na saúde, inclusive em cirurgias oculares.

Hoje, o neônio ucraniano é também produzido na China e está em constante elevação de preço, porém a Ucrânia ainda é a maior produtora, com cerca de 50% da exportação mundial.

É também aqui, na questão de oferta e procura, que voltamos a esbarrar no aumento de outros recursos como o petróleo. Porque mesmo que tivéssemos abundância desses minérios, será que eles conseguiriam chegar ao restante do mundo?

Impactos da guerra afetam a saúde mental – mesmo de quem está distante 

Não há e nunca haverá comparativo dimensional dos danos físicos e emocionais que afetam quem vivencia a guerra de perto e quem assiste as batalhas travadas de longe. A saúde mental é danificada em ambos os casos, mas em escalas completamente diferentes.

É de suma importância que isso seja lembrado. Agora que foi colocado, vamos restabelecer o que foi dito no começo desse texto: o mundo deixou de ter fronteiras há muito tempo.

A globalização permitiu que as nações fossem separadas por nomes, riquezas e ecossistemas. Mas não existe mais a linha que separa o mundo das informações em tempo real. Nós soubemos do primeiro ataque à Ucrânia, aqui do Brasil, talvez com um atraso de transmissão de segundos, no máximo.

E isso não permite que nossas mentes descansem, mesmo na segurança do nosso território. Um conflito dessa magnitude, entre duas grandes potências bélicas, pode causar efeitos adversos, aumento de stress e ansiedade, principalmente em quem não consegue se afastar das notícias, mas também não encontrou mecanismos para lidar racionalmente com elas.

A psicóloga Marta Martins Leite, quando entrevistada pela CNN de Portugal, disse acreditar que as redes sociais são prejudiciais nesses casos, mas que também o excesso de busca por informações dentro delas pode ser lido como um dos sintomas de uma saúde mental afetada pela guerra.

Entre outros sinais que o corpo pode dar de que a situação está abalando e modificando a rotina, e é necessário procurar ajuda para lidar com esse cenário no qual fomos inseridos, mas que não está sob o nosso controle, estão:

– Qualidade de sono alterada, alterações no padrão de sono;

– Dificuldades de concentração;

– Irritabilidade;

– Pensamentos intrusivos, negativos e catastróficos;

– Alterações de memória;

– Preocupações excessivas.

Para além desses aspectos, todos psicológicos, a doutora Débora Bento Correia, também entrevistada pela CNN, acrescentou uma condição física. Segundo ela, a amígdala, responsável por regular as emoções no nosso cérebro, libera cortisol e adrenalina para nossos órgãos ao identificar medo, e o corpo responde a isso através de batimentos cardíacos acelerados, suor, boca seca, náuseas, tremores e tensão muscular.

Todos esses sintomas se assemelham a quadros de ansiedade e pânico, isso porque se originam no mesmo lugar do cérebro, essa região do medo sob a qual temos controle, mas, em certos momentos, precisamos procurar um profissional para retomá-lo. E não há vergonha nisso.

Então, mesmo a um oceano de distância, as questões de saúde mental reiteram que é impossível ficar indiferente à guerra, e que temos que cuidar para que as sequelas desse cenário, físicas e emocionais, fiquem entre nós pelo menor tempo possível. Porque alguma haverá. Esperamos que seja apenas insônia em poucas noites.

E saber que, daqui, o que nos resta fazer é cuidar da nossa saúde, do próximo, e torcer para que o fim desse conflito esteja perto. Porque não queremos acrescentar novos itens a essa lista

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