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Por que a CID-10 não deve ser mais usada?

Entenda mais sobre a necessidade de atualização da CID-10, o que mudou na CID-11 e como isso impacta a prática médica e a jornada do paciente.

Tudo é moldado com o tempo e o mundo da medicina não é exceção. Com a evolução constante da prática médica e a compreensão mais profunda de doenças, tratamentos e terapias, é natural que a CID-10, publicada em 1992, não estivesse mais à altura dessas demandas.

A transição para a CID-11 é um reflexo claro desta necessidade de adaptação, em que as ferramentas e sistemas utilizados na área da saúde também devem evoluir para se manterem relevantes e eficazes.

Não se engane, a décima revisão da Classificação Internacional de Doenças cumpriu seu papel. Mas precisamos examinar de forma mais abrangente por que a substituição desse documento foi essencial.

Então, considerando tudo o que foi falado até aqui, dedicamos esse conteúdo para explicar por que a CID-10 não deve ser mais usada e o que mudou na CID-11.

Continue com a gente e aprenda mais sobre:

Um panorama geral sobre a CID-10
CID-10 e a necessidade de atualização emergente
O que mudou na CID-11
Como as mudanças impactam a prática médica e a jornada do paciente

Um panorama geral sobre a CID-10

Quando se trata dos cuidados com a jornada do paciente, a compreensão precisa das condições médicas é uma das ferramentas mais poderosas que existem.

É aí que entra a Classificação Internacional de Doenças, ou apenas CID, uma das maneiras pela qual a comunidade de saúde em todo o mundo compartilha esse conhecimento.

Sendo assim, o documento não é apenas um conjunto de códigos complexos, é uma bússola que orienta os profissionais na busca pela excelência no atendimento e na prestação de serviços.

O que é a CID-10?

A CID é uma classificação reconhecida universalmente, desenvolvida e periodicamente atualizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Inclusive, a CID-10 recebeu esse nome por ser a décima versão do documento.

Em resumo, ela categoriza doenças, condições de saúde, lesões e transtornos, atribuindo a cada um seu código específico.

Isso desempenha um papel crítico na área da saúde, justamente por simplificar a comunicação entre profissionais ao redor do mundo todo e aprimorar a precisão e eficácia dos cuidados prestados.

Vale ressaltar que a CID-10 não se limita a patologias ou diagnósticos fechados, uma vez que também abrange queixas, circunstâncias sociais e aspectos que fogem do habitual.

Leia também: O que é CID-10? Guia completo para o dia a dia da clínica médica

Importância da CID-10 para a prática médica

Mas, afinal de contas, por que a atribuição de códigos a sinais e doenças é tão importante? A resposta é simples: isso torna o monitoramento da prevalência e a incidência das condições que afetam um grupo de pessoas mais tangível.

Como resultado, é possível contar com dados confiáveis e estatísticas que proporcionam uma visão mais abrangente da realidade de saúde pública no país. Ao mesmo tempo em que leva uma série de benefícios para a prática médica:

  • Precisão no diagnóstico: a CID-10 fornece uma linguagem comum para descrever as condições dos pacientes, o que é essencial para garantir diagnósticos precisos e traçar o melhor curso de tratamento.
  • Pesquisas e estudos: a classificação também é uma ferramenta valiosa para acadêmicos e pesquisadores da área, uma vez que auxilia a compilar dados de diferentes fontes e facilita tanto a análise quanto a identificação de tendências em saúde.
  • Aprimoramento dos cuidados: a CID-10 auxilia na padronização de registros de saúde, o que, por sua vez, leva a uma melhor coordenação e continuidade nos cuidados ao paciente, especialmente importante em equipes multidisciplinares.

Compreensão de como funciona a CID-10

Os códigos da CID-10 são alfanuméricos e organizados em ordem crescente, dispostos em 22 capítulos, sendo que cada um abrange uma área específica da medicina.

Por exemplo, I10 indica hipertensão essencial, enquanto M41 refere-se à escoliose. Então, dominar essa linguagem permite traduzir as complexidades da medicina em informações compreensíveis.

Tudo isso fez da CID-10 uma ferramenta crucial de codificação de doenças e condições médicas por muitas décadas.

Afinal, ela desempenhou um papel fundamental na padronização de registros médicos, na pesquisa epidemiológica e na gestão de sistemas de saúde em todo o mundo. No entanto, com o passar do tempo, a classificação começou a mostrar suas limitações.

Médico anota em ficha em prancheta

CID-10 e a necessidade de atualização emergente

A CID-10 foi um marco significativo em sua época e, no decorrer dos anos, provou ser uma ferramenta vital para os profissionais da saúde.

Por outro lado, à medida que a medicina avançava, surgiu a necessidade de uma revisão que atendesse às suas novas demandas.

Isso porque a evolução contínua da área requer uma classificação de doenças mais moderna, precisa e flexível, capaz de garantir diagnósticos, tratamentos e pesquisas de alta qualidade.

Nesse sentido, investir em um novo sistema que refletisse a complexidade e o entendimento atual da medicina foi crucial para promover a saúde e o bem-estar das pessoas ao redor do mundo.

A nova versão da classificação, CID-11, foi publicada em 2018 e entrou em vigor no primeiro dia de janeiro de 2022. Uma série de razões evidenciam a necessidade dessa atualização:

  • Avanços científicos no conhecimento médico
  • Desenvolvimento de novas tecnologias e tratamentos
  • População mundial envelhecendo e se tornando mais diversificada
  • Melhoria da precisão e abrangência da classificação

Leia também: Como utilizar o CID 11 no seu dia a dia?

O que mudou na CID-11

Com a chegada da CID-11, estamos testemunhando uma resposta significativa a essas limitações. Esta nova versão não é apenas uma simples atualização, mas sim uma revisão completa, projetada para se alinhar com os avanços da medicina e as necessidades em constante mudança dos profissionais de saúde.

Uma das melhorias mais notáveis é a sua maior granularidade. Ou seja, ela reconhece a complexidade das condições médicas modernas, permitindo uma codificação mais exata.

Isso é fundamental para garantir que cada diagnóstico seja registrado com precisão, o que influencia diretamente as decisões de tratamento e a pesquisa médica.

A CID-11 inclui novos capítulos e códigos para doenças e problemas de saúde que não eram contemplados na CID-10.

Por exemplo, a décima revisão não estava preparada para lidar com novos desafios de saúde, como a pandemia de COVID-19. Então, a atualização também abrange doenças emergentes e condições relacionadas a fatores ambientais.

Leia também: Como a CID 11 é utilizada para pesquisas na área da saúde

Além disso, a CID-11 aborda o crescente reconhecimento da importância da saúde mental. Com uma gama ainda mais ampla de códigos para distúrbios psiquiátricos, a nova versão reflete a compreensão aprofundada dos desafios enfrentados pela sociedade hoje.

Isso não apenas ajuda no diagnóstico e tratamento, mas também no desenvolvimento de estratégias de saúde mais eficazes e menos estigmatizantes para a experiência do paciente.

A adaptação à tecnologia também é uma característica proeminente em relação ao que mudou da CID-10 para a atual. À medida que os sistemas de saúde incorporam cada vez mais a análise de dados e a inteligência artificial em suas operações, a CID-11 fornece uma estrutura de codificação mais adequada para essas tecnologias emergentes.

Leia também: Realidade virtual aplicada na medicina: como a tecnologia pode ajudar nos tratamentos

Do mesmo modo, a compatibilidade internacional segue sendo uma de suas características fundamentais.

Portanto, ela foi projetada para ser compreendida e utilizada em todo o mundo, facilitando a colaboração global em saúde médica e permitindo a troca de informações entre diferentes sistemas de saúde.

Alguns dos pontos principais sobre o que mudou na CID-11 merecem destaque, então, confira cada um deles:

Compridos em cápsula saindo de pote aberto

Uso indevido de antibióticos

Em relação ao uso de antibióticos, a CID-11 trouxe algumas mudanças importantes, com o objetivo de aumentar a conscientização sobre a ameaça da resistência antimicrobiana.

Uma das principais foi a inclusão de um novo código para o uso indevido ou abusivo de antibióticos, utilizado para descrever situações em que esses medicamentos são prescritos ou utilizados de forma inadequada, como:

  • Prescrições de antibióticos para infecções que não são causadas por bactérias;
  • Prescrições de antibióticos por períodos de tempo mais longos do que o necessário;
  • Não cumprimento do regime de tratamento prescrito.

Leia também: Conheça as principais classificações do CID 11

A inclusão deste código visa chamar a atenção para a necessidade de um uso mais racional de antibióticos.

Isso porque muitas pessoas recorrem ao uso desses medicamentos antes mesmo de fazer qualquer consulta. E mesmo com uma receita em mãos, acabam não completando o tratamento.

Tudo isso fica ainda mais preocupante quando levamos em consideração que essa prática pode estar criando bactérias e vírus mais residentes.

Não é à toa que a OMS considera a resistência antimicrobiana uma das dez principais ameaças à saúde global enfrentadas pela humanidade atualmente: sem a tomada de ações, estima-se que até 2050 o problema causará, anualmente, a perda de 10 milhões de vidas em todo o mundo.

Portanto, outra mudança importante foi a criação de um novo capítulo para infecções e infestações, que inclui uma seção específica sobre a resistência antimicrobiana e descreve situações em que um organismo infeccioso é resistente a um ou mais antibióticos.

Dessa forma, é uma revisão que visa melhorar a coleta de dados sobre o fenômeno, o que é essencial para o desenvolvimento de estratégias de combate a esse problema.

A CID-11 também inclui uma nova seção sobre saúde ambiental, que complementa as informações sobre o mesmo assunto. Tendo em vista a importância da prevenção da resistência antimicrobiana, a seção inclui medidas como:

  • Higiene adequada;
  • Controle de infecções;
  • Uso responsável de antibióticos.

Essas mudanças na CID-11 são um passo importante para a conscientização sobre o problema da resistência antimicrobiana. Afinal, o uso racional de antibióticos é essencial para proteger a saúde pública e garantir a eficácia dos medicamentos no futuro.

Leia também: 3 formas de conscientizar o paciente sobre uso de antimicrobianos

Transexualidade

Uma conquista notável em relação ao que mudou na CID-11 é sobre a transexualidade, que agora foi despatologizada e definida como uma desconexão pronunciada e persistente entre gênero e sexo atribuído no nascimento.

Sendo assim, foi um passo essencial para não ferir os direitos de pessoas trans e travestis e garantir que elas recebam o atendimento de saúde que precisam.

A principal alteração foi a exclusão da transexualidade do capítulo de transtornos mentais. Enquanto a CID-10 a classificava como “transtorno de identidade de gênero”, a CID-11 a entende como “incongruência de gênero”.

Leia também: Mudanças no comportamento do paciente: como oferecer um atendimento que acompanhe essas transformações

Outra mudança importante da OMS foi a inclusão de um novo capítulo dedicado à saúde sexual, que inclui a transexualidade. Assim como uma nova categoria diagnóstica para o distúrbio de disforia de gênero na adolescência e idade adulta, que descreve o sofrimento emocional que pode ser experimentado por pessoas trans e travestis.

Essas mudanças colaboram com a redução de estigmas, diminuição da discriminação e ampliação do acesso aos vários serviços de saúde pública indispensáveis para a comunidade.

Dessa forma, as mudanças na CID-11 reconhecem que a transexualidade não é uma doença mental e, logo, não precisa ser curada.

Quatro mãos juntas segurando um coração de papel com as cores da conscientização ao transtorno do espectro autista

Transtorno de espectro autista (TEA)

A versão mais recente da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde também trouxe mudanças significativas em relação ao diagnóstico de transtorno de espectro autista.

Sem sombra de dúvidas, a principal mudança foi a unificação de todos os diagnósticos relacionados ao TEA em um único código, 6A02.

Anteriormente, era dividido em vários diagnósticos, como autismo infantil, síndrome de Rett, síndrome de Asperger, transtorno desintegrativo da infância e transtorno com hipercinesia.

O impacto dessas mudanças é evidente, uma vez que garante um diagnóstico mais preciso e abrangente para identificar o autismo.

Por exemplo, a unificação dos diagnósticos facilita a identificação e o tratamento dos pacientes, enquanto o foco nos déficits ajuda a entender melhor a condição e a desenvolver intervenções mais eficazes.

Ainda é cedo para avaliar o impacto completo do que mudou na CID-11, mas é inegável que ela tem o potencial de melhorar a vida das pessoas com TEA e de suas famílias.

Síndrome de Burnout

A síndrome de burnout é um distúrbio mental caracterizado por fadiga extrema, esgotamento emocional e despersonalização, comum em pessoas que trabalham em ocupações que exigem um alto nível de envolvimento emocional.

Mas é só em sua versão mais recente que a CID trouxe mudanças significativas em relação ao diagnóstico.

A principal alteração foi o reconhecimento da síndrome de burnout como doença ocupacional. Na CID-10, era classificada como um distúrbio do ajuste, não necessariamente relacionado ao trabalho.

Leia também: Qualidade de vida para profissionais da saúde: como aplicar

Esse reconhecimento é importante para garantir que as pessoas que sofrem desta condição tenham mais do que acesso a tratamento, tenham apoio.

Também é uma mudança que pode levar a medidas de prevenção, como a implementação de políticas de trabalho mais saudáveis.

Além disso, a CID-11 inclui uma definição atualizada: estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso. Ao contrário da anterior, que caracterizava a síndrome como um estado de esgotamento físico e mental causado por estresse crônico no trabalho.

A definição é mais abrangente e inclui fatores não relacionados ao trabalho, como problemas pessoais ou familiares.

Portanto, o reconhecimento da síndrome como doença ocupacional pode levar a uma maior conscientização e prevenção da condição.

Garoto de moletom roxo e fone de ouvido no quarto

Transtorno de jogos eletrônicos (gaming disorder)

Nos anos 90, quando a CID-10 foi elaborada e publicada, a realidade dos jogos eletrônicos era outra. Se compararmos com os dias atuais, a diferença fica ainda mais evidente, uma vez que boa parte de crianças e adolescentes possuem computadores, smartphones, tablets, entre outros.

Tendo isso em mente, é natural que uma das novidades da CID-11 seria a inclusão do transtorno de jogos eletrônicos, ou gaming disorder, em inglês.

Para a OMS, essa patologia é um padrão de comportamento persistente ou recorrente, grave o suficiente para comprometer as áreas de funcionamento pessoal e social.

Como as mudanças impactam a prática médica e a jornada do paciente

Agora que você já compreendeu a essência da CID-11 e as implicações das mudanças introduzidas por essa nova classificação, é importante explorar como essas transformações repercutem positivamente na medicina e na jornada do paciente.

Diagnóstico aprimorado

Como a CID-11 fornece maior precisão ao classificar doenças e condições médicas, isso se traduz em benefícios substanciais para os profissionais de saúde que, por sua vez, podem realizar diagnósticos mais acurados e oferecer tratamentos mais eficazes aos pacientes.

Essa capacidade de discernir entre diferentes condições médicas permite uma abordagem terapêutica mais direcionada e incisiva, reduzindo erros de diagnóstico e proporcionando melhores resultados.

Melhor comunicação

Outra característica da CID-11 é sua flexibilidade, que permite aos profissionais de saúde fornecerem informações mais detalhadas para os pacientes.

Isso pode facilitar a comunicação entre ambos, melhorar a qualidade do cuidado e fortalecer a relação médico-paciente.

Reflexo dos avanços da medicina

Também é válido destacar que a CID-11 representa um marco na evolução da medicina, especialmente na era digital. Sua natureza como documento eletrônico traz consigo uma série de benefícios.

A acessibilidade é uma delas, uma vez que pode ser facilmente utilizada em dispositivos. Isso, por sua vez, agiliza o processo de diagnóstico e tratamento, permitindo que os profissionais da saúde tomem decisões embasadas de maneira mais rápida e eficiente.

Do mesmo modo, essa vantagem se estende aos prontuários eletrônicos. Para além da comodidade, é uma maneira de reunir todas as informações do paciente e garantir que ele será atendido da melhor forma possível, um dos grandes objetivos da CID-11.

É um testemunho do compromisso contínuo da medicina moderna em melhorar a qualidade e a acessibilidade dos cuidados de saúde.

Leia também: Benefícios do prontuário eletrônico do paciente integrado ao agendamento online

Mas, caso você ainda tenha dúvidas sobre a transição de uma classificação para outra, separamos algumas dicas para você se familiarizar com a CID-11:

  • Investir em educação continuada: existem diversos cursos e treinamentos disponíveis sobre a CID-11.
  • Ler os materiais de apoio: a própria OMS disponibiliza uma série de materiais de apoio para ajudar a entender o que mudou na CID-11.
  • Colocar os conhecimentos em prática: a melhor forma de aprender a classificar doenças e problemas de saúde é praticar.

É evidente que a segurança do paciente está entre os pilares principais que norteiam a CID-11, algo que também prezamos e tema principal de um dos nossos materiais.

Reconhecendo a importância fundamental de garantir que cada pessoa que entra em sua clínica receba cuidados de saúde eficazes, nosso compromisso com a divulgação de informações valiosas segue firme.

Para te ajudar a promover um atendimento ainda mais seguro e de qualidade, separamos um infográfico gratuito com as melhores práticas que podem ser implementadas em seu ambiente:

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